Editorial de lançamento

Às vezes é preciso vermos os outros mudarem o mundo para sabermos que também somos capazes. 

O Interruptor é, sobretudo, fruto da inspiração de outros – daqueles que nos últimos anos têm tido um papel crucial no desenvolvimento de um pequeno, mas firme, sector de órgãos de comunicação social independentes e de orientação comunitária. Falo especificamente do Shifter, do Jornal Mapa, do Gerador, do Fumaça e do Divergente. Não são os únicos que têm forçado a mudança neste universo, mas são aqueles que, de facto, têm cumprido as promessas de evolução e de inovação que os media tradicionais tendem a apregoar, mas que rápida e sucessivamente se esquecem de implementar. 

Por aqui, não temos a intenção de noticiar. O fio infinito de títulos de última e de outras horas já está entregue. Pretendemos ocupar um lugar que ainda está vago - um lugar onde se repensa a cultura com calma, mas também com criatividade. Sem trincheiras nem elitismos, e com preocupações contextuais, queremos despoletar novas narrativas, usando a tecnologia como aliada destes contos originais. A nossa causa maior é a promoção das literacias digital e mediática com a cultura como pano de fundo. Acreditamos que a informação de qualidade, aberta e plural, é fundamental numa sociedade democrática. E que a sua negação é um obstáculo real ao exercício da cidadania que se materializa sobre os mais vulneráveis. Num país onde, sem transferências sociais, quase 45% da população vive em risco de pobreza, a existência de locais onde o acesso ao conhecimento se mantém livre pode ser um precioso aliado na mitigação do fosso entre os que já têm possibilidades e os que ficaram sem elas ou nunca as viram sequer. Sem conteúdos fechados, o Interruptor será mais um destes redutos em Portugal.

Queremos ligar as boas ideias privilegiando os formatos longos, os podcasts, o documentário, a arte, a ciência e a experimentação. Exploramos dados, disponibilizamos código e pensamos continuamente sobre como podemos revolucionar estas coisas que são contar estórias e levar o conhecimento mais longe - sempre em português. O que publicamos é feito para ser partilhado e reinventado. 

Neste arranque, além de testarmos algoritmos para percebermos se conseguem diferenciar os heterónimos de Fernando Pessoa, inaugurámos duas séries que serão desenvolvidas ao longo dos próximos tempos.  

Em “Estamos a ouvir mais música portuguesa?” a proposta é clara. Para começar, fizemos um enquadramento histórico da amplificação da música portuguesa nos órgãos de comunicação social na viragem do milénio. Depois, mergulhámos na estatística. Em “Jogar à tabela para chegar mais longe”, examinámos dezasseis anos de contagens dos álbuns mais vendidos em Portugal, e principiámos a construção da nossa resposta.

Para rematar este capítulo inicial, lançámo-nos na demanda de percorrer vários mapas para desvendar até onde chega a cultura no nosso país. O primeiro fascículo é sobre bibliotecas e chegará via podcast. 

Os artigos, fica o aviso, são longos, mas nós acreditamos que valem a pena até ao fim.

Antes de me despedir, gostaria ainda de deixar uma nota de particular agradecimento a algumas pessoas cujo apoio foi inestimável para o nascimento do Interruptor. À Blink, pelo logotipo e pela imagem gráfica; e ao Jorge Kimbamba, que nos emprestou a sua voz para darmos vida a cada episódio. 

O Interruptor é mantido por uma pequena equipa de três pessoas. Eu produzo os artigos, o Ricardo Correia trata da sonoplastia e fotografia, e o Ciaran Edwards programa o nosso site.  Esperamos que gostem do nosso trabalho - que o leiam, ouçam, partilhem e apoiem. 

Sejam muito bem-vindos.

Rute Correia, 

co-fundadora do Interruptor

Créditos